Senado se rende a evangélicos: criminalizar homofobia fica para 2012
Em meio a guerra entre militantes
evangélicos e LGBTTs, Comissão de Direitos Humanos cede à pressão dos
primeiros e desiste de votar projeto que pune com cadeia quem
discriminar gays. Relatora Marta Suplicy (PT-SP) contou votos e temeu
não ganhar. ‘Existe homofobia no Brasil, sim’, diz. ‘Queremos lei que
também resguarde nossos direitos’, rebate senador evangélico.
Najla Passos
Najla Passos
BRASÍLIA – O Brasil tem uma presidenta
mulher, mas isso não quer dizer que se livrou de preconceitos de gênero
ou opção sexual. Eles continuam bem vivos, como se viu em baixaria
recente de um deputado militar contra Dilma Rousseff. E como se pôde
comprovar nesta quinta-feira (8) no Senado, palco de uma verdadeira
batalha entre militantes gays e evangélicos por conta da tentativa – que
acabou sendo empurrada para 2012 – de se criminalizar a homofobia.
A Comissão de Direitos Humanos da Casa
estava reunida para votar proposta escolhida como uma das bandeiras da
senadora Marta Suplicy (PT-SP), conhecida por posições liberais em usos e
costumes. Em fevereiro, ainda recém-empossada, a ex-prefeita paulistana
tirou da gaveta texto parado no Senado desde 2006, depois de enviado
pela Câmara dos Deputados.
De autoria da então deputada Iara
Bernardi (PT-SP), o projeto pune intolerância contra diversos segmentos,
sem mencionar homossexuais especificamente. Marta resolveu preparar
relatório que inclui o grupo como potencial vítima. E abriu a polêmica.
“Ninguém agride um surdo porque ele é surdo. Existe, sim, homofobia no
Brasil”, disse a senadora, ao apresentar o parecer na comissão nesta
quinta.
Segundo a senadora, oito estados e 112
municípios já aprovaram legislações próprias para combater a homofobia, o
que comprovaria que esta é uma demanda da sociedade. “O que se quer
neste país é paz e harmonia.”
Marta propõe chegar à “paz e harmonia”
punindo com prisão de até três anos o patrão que deixar de contratar
alguém por preconceito de orientação sexual, o atendente de
estabelecimento comercial ou repartição pública que negue acesso ou
prestação de atendimento a homossexuais e quem induzir à violência
contra gays.Guerra
A leitura do parecer foi acompanhada por
uma comissão lotada por grupos de evangélicos e de militantes LGBTT
(Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis), um tentando se
sobrepor ao outro, com bandeiras e palavras de ordem contrárias.
O clima esquentou com o início dos
debates e teve duas figuras de proa na bancada evangélica, os senadores
Magno Malta (PR-ES) e Marcelo Crivella (PRB-RJ).O primeiro arrancou
aplausos dos evangélicos ao criticar o projeto de forma bastante
enfática. “Não vivemos em um país homofóbico. Quem agride homossexuais
também agride aposentados, mendigos, crianças”, afirmou, ao justificar
porque, na opinião dele, não é necessário um projeto que proteja
especificamente o segmento.“Ser homossexual é uma opção da pessoa. E ele
pode até fazê-lo. O que ele não pode é criminalizar quem não concorda
com ele”, completou Malta, acrescentando que jamais aprovará o projeto.
Crivella fez um apelo à sociedade para
não criminalizar evangélicos em função da posição contrária deles ao
projeto. “Não podemos ser julgados como temos sido. Nós respeitamos os
homossexuais. Só queremos encontrar uma lei que também resguarde nossos
direitos.”A senadora Marinor Brito (PSOL-PA), que saiu em defesa do
projeto, acabou sendo ela mesma vítima durante a sessão. Com ânimos à
flor da pele, jovens evangélicos hostilizaram a senadora, chamando-a de
louca. Bastante nervosa, Marinor pediu à segurança do Senado que
retirasse um manifestante mais exaltado, que a ofendeu. Houve tensão,
bate-boca, mas o mal–estar foi contornado, e a sessão prosseguiu.
“Se a Constituição fosse suficiente para
punir intolerâncias, não teria sido necessário que criássemos o Código
de Defesa da Criança e do Adoelscente e a Lei Maria da Penha, por
exemplo. O Brasil não é um país violento, mas a cada minuto uma mulher é
espancada”, afirmou Marinor.
Muro
Dois senadores progressistas adotaram
posições conciliadoras, o que contribuiu, no final da sessão, para o
adiamento. “Se há dúvidas, é melhor a gente debater mais. Eu gostaria de
votar um projeto contra a intolerância com entusiasmo, e não é assim
que me sinto hoje”, disse Cristovam Buarque (PDT-DF), para quem, apesar
dos esforços de Marta, o projeto ainda passa a imagem de que “estamos
lutando contra uma intolerância cometendo outra.”Já a senadora Lídice da
Mata (PSB-BA) lembrou que há correntes científicas que defendem que o
homossexual já nasci assim e pediu mais tolerância e respeito entre as
partes.Com medo de perder para a bancada evangélica, Marta Suplicy
decidiu recuar e desistir da votação nesta quinta-feira, para repensar o
assunto e descobrir se seria possível, no ano que vem, encontrar um
texto aceito pela maioria da Comissão de Direitos Humanos. “Eu contei os
votos e vi que daria empate”, justificou a petista, tomando uma vaia
dos gays. “Só colocar uma matéria em votação quando se sabe que vai
ganhar é ditadura”, gritou um manifestante.
Fonte: Correio do Brasil | Divulgação: Midia Gospel
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