O MÚSICO CRISTÃO E A MÚSICA MUNDANA
Pr. Pedro Liasch Filho
Noto com estranheza e pesar, que músicos cristãos, instrumentistas e cantores, denominados evangélicos, estejam trabalhando em bares, boates e shows com outros profissionais não crentes, executando músicas que nada tem a ver com o novo cântico daquele que, por meio de Cristo, fora feito nova criatura.
Defendendo-se, alguns
dizem que são profissionais e que trabalham com a música secular porque o
mercado de trabalho para o músico cristão, no meio evangélico, é escasso. Isso
é verdade; até porque a profissão de músico evangélico não é mercado de
trabalho aberto, ou seja, é profissão muito restrita, onde a relação procura e
oferta, é brutalmente desproporcional. Possivelmente é mais de 50/1.
Ora, assim também era
na congregação dos israelitas, onde apenas quatro mil músicos profissionais (1
Cr 23. 5) foram convocados para trabalhar como músicos. Observe-se que entre os
restantes 34 mil levitas convocados por Davi e entre os mais de 3 milhões de
hebreus que compunham a população de Israel, existiam outros milhares de
músicos, que não tiveram espaço para trabalhar no templo.
Nem por isso ficaram
sem trabalhar em outra profissão, nem deixaram de cantar ou tocar seus
instrumentos para louvar a Deus. Assim também, milhares de músicos cristãos não
terão lugar para trabalhar no meio evangélico, e necessariamente terão que
procurar outra profissão para sobreviver.
Na música secular,
por outro lado, o problema é o mesmo. Segundo o Sindicato dos Músicos do Estado
de São Paulo, a situação do músico profissional, que nunca foi boa, atualmente
é caótica.
Devido o surgimento
da música eletrônica computadorizada, dos salões de dança com música
eletrônica, e a proliferação dos estúdios digitais de gravação profissionais e
amadores, estima-se que dos 40 mil músicos profissionais do Estado,
incluindo-se os 20 mil inscritos na Ordem dos Músicos, mais de 60% já mudaram
de profissão, e dos que ficaram, mais de 30% estão fazendo bico em outras
atividades.
Charles Gounod,
famoso compositor francês, autor de grandes obras, como Redenção, Mireille,
Serenata, Ave-Maria e outras, talvez tivesse razão quando fez esta
surpreendente afirmação: A música, como arte, é a mais esplêndida de todas;
como profissão, é detestável; de resto, é justo que assim seja; a Terra não
pode acolher o que pertence ao Céu.
Por outro lado,
justificando o fato de estarem trabalhando na noite, alguns músicos cristãos
dizem que estão seguindo a orientação de Paulo (1 Co 9. 22), segundo a qual,
ele se fez de "fraco para com os fracos, a fim de ganhar os fracos".
Ocorre porém que o texto em referência não se aplica aos não crentes, uma vez
que Paulo se referia aos crentes fracos na fé, a saber, àqueles que não
conseguiam discernir a doutrina cristã em relação aos preceitos mosaicos.
Os fracos desse texto
não são incrédulos, e sim, crentes que precisavam ser fortalecidos na fé, a fim
de viverem a liberdade com que Cristo os libertou. Portanto, o argumento, neste
caso, não tem validade, pois do contrário os crentes teriam que participar do
pecado para evangelizar os pecadores.
Já alguns músicos
instrumentistas justificam sua atividade musical no mundo argumentando que o
que eles fazem é apenas acompanhar os cantores, não tendo nenhuma participação
na mensagem que eles transmitem. É óbvio porém que isso não é possível, uma vez
que ao interpretar a música, o músico instrumentista inevitavelmente participa
de toda a sua expressão.
Na verdade, ele se
torna conivente com o cantor, com o qual estará participando ativamente na
interpretação, no estilo e nas características da música, já que, através do
seu instrumento, ele se torna intrinsecamente integrante da obra musical, cuja
mensagem, transmitida pela letra, tem como único objetivo, expressar o
mundanismo de Satanás, que se opõe a Deus e a tudo o que é espiritual.
Por conseguinte, vem
a pergunta: que relação poderia ter o crente músico com a música mundana?
Músico cristão é uma profissão como qualquer outra? Por um lado poderia o
crente músico (cantor ou instrumentista) interpretar esse tipo de música por
gosto ou profissionalmente, sabendo-se que o objetivo dessa música é se opor a
Deus e afastar as pessoas do seu reino?
Poderia o crente, por
outro lado, obter o seu sustento trabalhando, por exemplo, numa fábrica de
cigarros ou de bebidas alcoólicas, sabendo-se que tais produtos só no Brasil
matam mais de 300 mil pessoas por ano? A resposta é não.
Questionando-me um
dos meus amigos músicos sobre música secular, perguntou-me: Caso uma cantora de
ópera venha a se converter deverá parar de cantar ópera? A resposta poderia ser
um sim ou um não, dependendo das circunstâncias. Veja que a mesma resposta
serve para todos os músicos profissionais de música secular que também venham a
se converter.
Observe-se que se a
cantora de ópera pudesse refazer o seu repertório excluindo os temas mundanos,
por exemplo, a ópera bufa e a ópera cômica, cujos temas irreverentes são
essencialmente mundanos, a resposta poderia ser sim. E neste caso poderia até
incluir no repertório óperas cristãs como a espiritual, denominada oratório, e
a sacra, cujos temas são religiosos.
Porém, no caso da
música popular, será isso inteiramente impossível, uma vez que o músico
profissional desse segmento musical terá que estar na área para o que der e
vier, ou seja, não poderá escolher o seu repertório, até porque, se o fizer,
não encontrará emprego, já que a música secular, cujos temas são mundanos, é a
que mais se destaca em todos os lugares.
Depois, levando-se em
conta que a situação é delicada, o bom senso recomendaria a que, mesmo
precisando arranjar outra profissão, caso não haja espaço para trabalhar no
meio evangélico (e já se sabe que não o há), o músico profissional cristão,
comprometido com o reino de Deus, não poderia se envolver com a música mundana
propriamente dita, a menos que, abafando sua consciência, queira ignorar o
ensino da Palavra de Deus.
Mas se ele vir a ser
fiel e depositar a sua confiança na providência divina, as portas de trabalho
vão se abrir, ainda que seja em outra profissão, porque Deus é fiel e, segundo
a Bíblia, nunca se viu "o justo desamparado, nem a sua descendência a
mendigar o pão". Sl 37.25.
Davi, neste mesmo
salmo já havia dito: "Confia no Senhor e faze o bem; habita na terra e
alimenta-te da verdade. Agrada-te do Senhor, e ele satisfará aos desejos do teu
coração. Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará".
Vs. 3 a 5.
No entanto, a recusa
em participar da música mundana não exclui a possibilidade de o músico cristão
se prover dos recursos e conhecimentos técnicos musicais contidos no celeiro da
música secular, pois a Palavra de Deus (1 Ts 5. 21) nos ensina que devemos
julgar todas as coisas e reter o que é bom.
Creio no entanto que
o celeiro da música evangélica mundial não é menos rico do que o celeiro da
música secular. Até porque, do contrário, os músicos evangélicos não seriam tão
assediados pelo setor secular, como, de fato, o são.
Se por um lado fora
remido dos próprios pecados pelo sangue do Cordeiro, bem assim tendo sido
tirado do império das trevas, o músico cristão não poderia, de outra forma,
cantando ou executando músicas mundanas tornar-se parceiro de Satanás, o
imperador das trevas. Não se serve a dois senhores. Ou se serve a Deus, ou se
serve ao diabo.
"...As más
companhias corrompem os bons costumes". 1 Co 15. 33.
"E não vos
associeis às obras infrutíferas das trevas...". Ef 5. 7-11.
"Não te tornes
cúmplice de pecados de outrem... ". 1 Tm 5. 22.
"... Não sejas
participante dos seus pecados... ". Ap 18. 4.
Extraído do seu
livro, Músicos de Cristo, Editora Reviva
Fonte: Publicado originalmente em http://www.evangelicos.com/artigos/pedrolf06.shtml
Fonte: Publicado originalmente em http://www.evangelicos.com/artigos/pedrolf06.shtml
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