Pesquisadores dos Estados Unidos, Holanda e
Hong Kong podem ter achado um caminho para o desenvolvimento de uma
vacina universal contra gripe. O almejado produto, se um dia vier a ser
criado, poderia não somente imunizar contra todos os tipos de vírus que
causam a doença como acabar com a necessidade, ao menos na teoria, de as
pessoas terem de tomar uma dose de uma nova vacina todos os anos.
O
grupo descreveu três anticorpos humanos que protegeram camundongos
contra diferentes linhagens de influenza tipo B - um grupo de vírus bem
menos letal que o tipo A (o da gripe suína) e, por isso mesmo, menos
estudado. Mas ele merece atenção porque, de tempos em tempos, pode ser
responsável por mais casos que o tipo A e ser mais grave em crianças.
Anteriormente
essa mesma equipe de cientistas já havia encontrado anticorpos que
neutralizaram as cepas de influenza A. A expectativa é que essas
descobertas, combinadas, possam providenciar informações-chave para o
desenho da tão esperada vacina universal.
Os imunizantes que
existem atualmente são trivalentes, ou seja, visam a três variedades de
vírus - as duas do tipo A e uma do tipo B. Elas são elaboradas de acordo
com as variedades mais frequentes que estão em circulação naquele ano. Além
de existirem em diversas variedades, os vírus da gripe têm a enorme
capacidade de sofrer mutação rapidamente. Daí a necessidade permanente
de combatê-los, de acordo com as cepas mais frequentes de cada estação, o
que não só significa altos custos como demanda mobilização da
população.
Fora esses dilemas, outra dificuldade que esse tipo de
vacina já vem enfrentando é que, de uns anos para cá, as duas linhagens
do tipo B têm circulado ao mesmo tempo - antes era só uma de cada vez
-, e uma não reage à vacina para a outra, o que aumenta a ocorrência de
doentes.
A descoberta dos novos anticorpos já pode ajudar nesse
sentido - em testes em camundongos, foi possível protegê-los contra as
duas linhagens. Mas a ideia é ir além. “Para a vacina ser realmente
universal, ela precisa proteger contra todos os vírus do tipo A e do
tipo B. E com este estudo nós agora temos anticorpos amplamente
neutralizantes contra ambos”, disse Ian Wilson, do Instituto de Pesquisa
Scripps, da Califórnia, em comunicado à imprensa.
Um dos
anticorpos encontrados é particularmente interessante por ser o primeiro
caso conhecido aparentemente capaz de oferecer proteção contra todos os
vírus, complementou o líder do trabalho publicado nesta sexta-feira na
revista Science.
Para uma vacina universal funcionar, é
necessário encontrar nas muitas variedades de vírus algo em seus genomas
que seja comum entre todas elas e, mais importante que isso, que não
sofra mutações com o passar do tempo. “É essa parte viral, comum e
estável, que seria capaz de promover uma resposta do anticorpo a ponto
de os vírus serem neutralizados e a pessoa ficar protegida contra a
infecção”, explica o pesquisador Alexander Precioso, do Instituto
Butantã, que trabalha com a produção nacional de vacina contra a gripe.
Para
ele, o novo estudo gera uma boa expectativa, mas ainda está muito no
início. “De todo modo, os resultados são animadores, desse campo devem
sair dados importantes nos próximos anos”, diz.
Fonte: UOL |
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